Thursday, March 10, 2005

Gestão: Liderança e Planejamento
Sidney Beltrão Diniz

"Na era da revolução, não será o conhecimento que produzirá a nova riqueza, mas o insight – o vislumbre de oportunidades para inovações descontínuas. A descoberta é a jornada; o insight é o destino. É preciso converter-se em seu próprio profeta".
Gary Hamel

Existe uma confusão teórica e porque não também prática quando queremos dar nome à determinada função de comando. Se formos buscar na literatura técnica ou no dicionário, não existe clareza absoluta em relação aos termos gestão, administração ou gerência. Isto sem falar em outras funções de atribuições semelhantes como chefia, direção, superintendência etc...O objetivo desse artigo não é entrar nessa discussão semântica ou retórica de definições dos nomes acima citados, mas tratar a questão genericamente dita gerencial, não importando o tamanho de seu bolo ou fatia administrativa, pois achamos que a responsabilidade deva ser a mesma independentemente da altura ou de sua abrangência. Portanto vamos considerar aqui o termo Gestor para todo aquele que gerencia ou administra parte ou toda instituição, ou qualquer outro tipo de organização. Da mesma forma àquele que além de administrar suas políticas, também dá o suporte necessário à implementação de seus objetivos. Aqui não fazemos distinção entre empresa pública ou privada. Os objetivos ou políticas podem tanto advir de um conselho gestor formado por acionistas como também um conselho gestor formado por representações de entidades usuárias que determinam as políticas comunitárias transformadas do mesmo modo em objetivos organizacionais. Sabemos que os termos Gestor assim como Gestão são originadas do modelo administrativo francês e português (Motta - Ensaios sobre autogestões-1987), mas nos parece o que melhor se aplica a unificação desses termos administrativos e gerenciais.
Dito isso podemos agora definir Gestor ou Gestão, como função gerencial ou administrativa que tem dentro de seu bojo de atribuições, o pensar, o decidir e o agir, devendo ter como qualidades fundamentais e esperadas a liderança positiva e o planejamento, além do reconhecimento, dentro da instituição, de seus dois maiores bens ou recursos: as informações e seu capital intelectual.

Modelo Tradicional de Gestão
  • Ausênciade espaços coletivos de discussão e planejamento
  • Isolamento castelar ou feudal ;
  • Ausência de reuniões formais para ouvir as diversas equipes;
  • Autoritarismo nas relações com os níveis hierárquicos da organização;
  • Autoritarismo e impessoalidade junto a auxiliares e clientes;
  • Bloqueios de comunicação com as áreas administrativas e assistenciais;
  • Excesso de formalismo burocrático e pouca agilidade;
  • Modelo de “chefia” e “controle” predominando sobre a concepção de “gestão” e “liderança”;
  • Dificuldade de fluxo dentro da própria organização.

    Tornar-se gestor, na moderna administração, não significa apenas tornar-se a figura central de determinado segmento da organização ou da própria. São atributos fundamentais a sua sensibilidade e sua liderança que são medidos por sua capacidade técnica, administrativa e intuitiva para compreender as necessidades de sua equipe ou organização, reconhecendo suas forças e valores. Deve entender que seu sucesso depende de toda equipe e que para alcançá-lo deve compartilhar idéias e informações, não devendo se colocar, como senhor da verdade absoluta, mas sim, como um decodificador que interprete compartilhadamente, todo seu estoque de talento e de experiência. É fundamental que saiba que ao mesmo tempo em que faz parte da engrenagem maior da organização e da sua política institucional, deve criar e dar condições para que seus subordinados façam o mesmo e que também possam se desenvolver, reconhecendo e valorizando o fato de que muitos deles estejam em nível técnico superior ao seu, entendendo a situação não como uma ameaça pessoal, mas como um grande trunfo, ou uma grande oportunidade de bons resultados.

    “Quando vemos o mundo como uma máquina, o controle é a forma mais apropriada de administrá-lo. Porém se considerarmos o mundo como um sistema vivo, a melhor forma de conviver nele é pela busca, via participação, diálogo e cooperação”.

    É preciso, acima de tudo, saber demonstrar que o que faz diferença é a força e a união do grupo. A gerência é feita de porções iguais ou desiguais, de ônus e bônus. O que torna esta receita harmônica ou desarmônica é o seu grau de envolvimento e comprometimento. Somente o seu entusiasmo, a sua motivação, os seus objetivos e as suas metas poderão alavancar um novo processo empreendedor ou quaisquer mudanças culturais, estruturais ou administrativas na organização. O bônus seria traduzido nos resultados alcançados e na valorização objetiva e subjetiva da equipe, com reconhecimento interno e externo. Numa equipe não se realizam apenas os objetivos da instituição, mas também as necessidades de afeição, afiliação, reconhecimento e valorização.

    Liderança

    • Desafiar o processo;
    • Inspirar uma visão compartilhada;
    • Capacitar os outros a agir;
    • Forjar o caminho;
    • Encorajar as emoções.

    Se não existe envolvimento do gestor e do grupo para se chegar às metas planejadas, ou se o grupo não for suficientemente motivado por um planejamento comum, passa-se a ter um comprometimento fagocítico, com grande prejuízo para todos os níveis organizacionais da instituição ou empresa, o que vem repercutir direta e imediatamente no produto final, que no caso especifico da indústria hospitalar é catastrófico, pois lida com vidas, sendo a saúde seu produto final.


    Características das equipes eficazes

    • Objetivo comum; Mente aberta;
    • Confiança e respeito;
    • Liderança compartilhada;
    • Procedimentos eficientes;
    • Criação a partir das diferenças;
    • Flexibilidade e adaptabilidade;
    • Aprendizado contínuo.


    Ao assumir a gestão de uma empresa, serviço ou qualquer outra organização, é primordial ao gestor considerar como prioritário conhecer as pessoas que lá trabalham e imediatamente iniciar a exercer sua liderança positiva, chamando a todos para um grande exercício de envolvimento, compromisso e planejamento. É importante que saiba separar a mensagem do mensageiro, isto é, que a sua avaliação não sofra interferência de outros atores ou outras interpretações, e partir daí construir uma eficaz equipe gerencial com visões diferentes e diferenciadas.

    “Podemos comprar o tempo de um homem, material, instalações, porém não se pode comprar seu entusiasmo e dedicação, não se pode comprar o desejo de se fazer uma coisa bem feita. Temos de conquistá-lo".
    Pierre Weil

    Deve o gestor e líder ter o entendimento que as opiniões e divergências são saudáveis para o fortalecimento e o crescimento do grupo e da instituição. O gestor tem de saber lidar com as diferenças, mas entender que o ser humano é único, e a partir daí, constituir equipes eficazes que com ele participarão do gerenciamento da instituição estando eles em cargos de chefia ou não.

    Tipos de Liderança – Kurt Lewin
    1. Autocrática – aspira o poder total e completo, delega pouco, é centralizador e exige pronto atendimento. O rendimento do grupo se dá sob muita tensão.
    Lema: Eu sou o poder
    2. Laissez Faire – não assume responsabilidades, não aglutina, acredita que o grupo é que tem de definir seus objetivos e metas, mas não contribui em nada com tal processo.
    Lema: O poder são os outros.
    3. Democrática – é cooperativo, é interessado no trabalho grupal, procura interferir, mas não faz prevalecer sua única vontade, está atento as variações e as diferenças e acompanha suas decisões.Os resultados apontam para saídas criativas e inovadoras.
    Lema: O grupo é o poder

    O passo seguinte seria analisar, juntamente com sua equipe organizacional, o ambiente interno e externo, sua dinâmica e transformações, buscando através de uma atitude pró-ativa, demonstrar claramente seus objetivos institucionais iniciais. Questionar e se questionar sobre como tem funcionado esta organização; qual a qualidade de serviço que se está prestando; como os usuários vêem a organização; qual o sentimento das pessoas que lá trabalham e qual é a cultura da organização. Este momento inicial é um momento ímpar para se estabelecer um diagnóstico sem barreiras ou qualquer outro filtro que possa mascará-lo, levando assim a interpretações errôneas nos dois sentidos da avaliação: das pessoas em relação ao gestor, sua equipe, seus compromissos, seu estilo, seus objetivos e idéias, e dentro dos mesmos parâmetros, do gestor em relação às pessoas que lá labutam e que com ele compartilharão os bons e os maus resultados.

    Diagnóstico Estratégico

    • Sentir pessoalmente o pulso da organização em sua periferia;
    • Atenção a radio corredor;
    • Atenção aos sons inaudíveis;
    • Identificar lideranças e ouvi-las;
    • Identificar e conhecer todos os processos;
    • Conhecer todo fluxo de prestação do serviço;
    • Avaliar os indicadores de desempenho e produtividade.
    • Ouvir, ouvir, ouvir e ouvir.

    É importante e politicamente correto e produtivo, quando da constituição da equipe gestora, que sejam agregados funcionários da própria instituição ao grupo gestor. A estratégia da equipe “mista” de gestão visa afirmar e garantir que as conquistas serão mantidas, mas que novas propostas de desenvolvimento técnico e administrativo serão colocadas em discussão, introduzindo-se o conceito de planejamento estratégico.

    Liderança: Estratégias

    • Management of self – Capacidade de líderes eficazes de usarem a eles próprios, seus pontos fortes, para trazer a tona o melhor de sua equipe. O self líder é constituído pelo equilíbrio de três pólos de forças:
      O pólo da ambição, sucesso e sobrevivência.
      O pólo dos valores, que abriga ideal e ética.
      O pólo dos talentos, competência e expertise.
    • Entendimento que os maiores bens que uma organização possui são suas informações e seu capital intelectual.
    • Para conquistar os objetivos organizacionais, as metas perseguidas e a qualidade almejada, a organização necessita prioritariamente conquistar as pessoas.

    O gestor através de suas qualidades de liderança, e utilizando-se do “management of self”, deve passar para toda equipe os objetivos e virtudes do pensar estrategicamente como base do planejamento. Questões como: quem somos, o que pretendemos, aonde queremos chegar, e outras tantas, devem ser intensamente discutidas nas diversas reuniões entre a equipe administrativa e demais funcionários. Ter em mente que além da liderança, o planejamento é outra das principais virtudes que pode lhe agregar valor. Planejamento consiste na análise do negócio e no mapeamento de todas as variáveis de impacto sobre o seu destino, no âmbito do ambiente organizacional interno e externo, considerando conjuntura, mercado, resultados, cultura e clima, para definir objetivos e estratégias orientadoras de ações de curto, médio e longo prazo. O resultado do grande mergulho nas profundidades do planejamento resultará em primeiro lugar no aprofundamento das relações administrativas de todos, deixando vir à tona velhos paradigmas institucionais. Esse bom momento dará ao gestor uma grande oportunidade de demonstrar sua capacidade administrativa e sua liderança, colocando em discussão a própria instituição e o reconhecimento de seus pontos fortes e fracos, valores, princípios e diretrizes, chegando-se a definição de sua identidade, sua missão institucional, e já atrelando aí os conceitos de ameaças, oportunidades, visão e as metas para alcançá-la.

    Objetivos do Planejamento Estratégico

    • Planejar o futuro da Organização e definir seus objetivos;
    • Identificar oportunidades a partir do conhecimento de seu potencial, dos aspectos conjunturais (políticos, sociais, econômicos, etc...) e ameaças sob a mesma ótica procurando transformá-las em oportunidades;
    • Analisar resultados a partir de uma visão integrada, sistêmica e de rede;
    • Integrar Gestores e Equipes;
    • Coordenar esforços na direção planejada.

    Tudo isso pode ser definido como planejamento estratégico, ou seja, o processo dinâmico pelo qual são definidos os caminhos a serem seguidos, por meio de um comportamento pró-ativo, levando-se em conta a análise do ambiente em consonância com sua razão de existir ou sua identidade institucional, a fim de construir o futuro desejado. O trabalho neste momento ganhará em dinâmica. Diversas equipes com responsabilidade por diversos projetos deverão ser constituídas, já com adesão de novos grupos de representações internas e externas que se sentiram motivadas a discutirem novas propostas, objetivos e metas. Essas propostas e metas deverão ser bem capitalizadas, capilarizadas e difundidas, pois seu somatório representa o projeto maior que se estará construindo na instituição. Fica bastante claro, que para se chegar ao resultado almejado, é de fundamental importância um abrangente número de pessoas envolvidas, pois com novas adesões surgem novas contribuições a esse projeto coletivo, dando assim, confiança e sustentabilidade ao planejamento dito estratégico e a seus resultados a curto, médio e longo prazo.


    Etapas do Planejamento Estratégico

    • Razão Social
    • Negócio: Esta definição nem sempre deve ser óbvia. Deve-se equilibrar o foco do que a organização oferece com o que seus clientes procuram;
    • O que é estratégico no negócio;
    • Qual é a sua missão? E a visão?
    • Princípios ou valores.
    • Principais forças - oportunidades e estratégias potencializadoras;
    • Principais fraquezas – ameaças e estratégias neutralizadoras;
    • Estrutura organizacional
    • Perfil do cliente (quem é, o que exige).

    Finalizando, ressaltamos mais uma vez a importância para o gestor dessas duas qualidades, liderança e planejamento, e seu momento ouro para demonstrá-las. Enfatizamos também a necessidade de construção desde o inicio, de um competente canal de comunicação que garanta internamente e externamente a difusão das informações, propostas, projetos, decisões, posicionamento estratégico e todas as suas ramificações. Não ficar somente no discurso técnico, mas reconhecer que esses novos valores da moderna administração não são de tão fácil compreensão ou aceitação por todos. Demonstrar, através divulgação escrita periódica que dê embasamento teórico aos diversos componentes das sucessivas reuniões com as diversas equipes técnicas, administrativas e demais funcionários, o seu perfil gerencial e o tipo de gestão democrática e transparente que pretende implantar. Lembrar que um dos principais fatores de sucesso de uma organização está diretamente relacionado com aquilo que transmite. Como a comunicação chega no ambiente interno e externo. Como todos se comunicam com os seus clientes, e evidentemente, como a organização é percebida pelos mesmos. Daí ser fundamental o compartilhamento das informações e dos resultados alcançados.

    “Conte-me, e eu vou esquecer.
    Mostre-me, e eu vou lembrar.
    Envolva-me, e eu vou entender”.
    Confúcio


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